sábado, 24 de fevereiro de 2007

Nas Montanhas Amarelas

Procurei refúgio na altitude de uma montanha, pois pensei que aí poderia encontrar o silêncio que me permitiria pensar o Mundo com maior clarividência. Afinal encontrei apenas outro tipo de ruídos.




Em Huangshang (Montanhas Amarelas) os cenários são como que retirados de um filme. Maciços rochosos que a Mãe-Natureza distribuiu de forma a maravilhar os olhos do visitante humano. Construções naturais que iluminaram poetas durante gerações e que inspiraram nomes de picos tão improváveis quanto Beginning to Believe ou Turtle watching the sea.

A aldeia no sopé da montanha

Beginning to believe


A democratização do Turismo tem o seu preço e os momentos de tranquilidade acabam por escassear, estando apenas acessíveis nos picos mais elevados. São as pernas que acabam por pagar o preço do capricho da solidão.



Por toda a parte os (poucos) visitantes estrangeiros são brindados com gritos estridentes de “La wei” (a forma menos simpática de dizer “estrangeiro”) ou com saudações de crianças que, impelidas pelos pais, se empurram para dizer “hello” àquele que é talvez o primeiro estrangeiro que vêem ao vivo. Mesmo um flash na nossa direcção provavelmente não será uma coincidência, mas sim uma forma de eternizar o rosto diferente que fascina o olhar oriental.

De resto, a curiosidade em relação aos estrangeiros é uma constante. Onde quer que se vá, principalmente nos meios mais pequenos, poucos são aqueles que se dão ao luxo de desaproveitar uma oportunidade de utilizar as poucas frases que conhecem em inglês.

Despeço-me das Montanhas Amarelas sem a certeza de ter encontrado aquilo que me procurava. Talvez quisesse apenas fugir um pouco da confusão que nos rodeia a todos cá em baixo.




sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Ano Novo Chinês

Os chineses, em geral, não têm férias. Mas, em compensação, têm três longos feriados, dos quais o mais importante é o Ano Novo Chinês, que este ano, de acordo com o calendário lunar, acontecerá no dia 18 de Fevereiro.
Este é um feriado que a maioria das pessoas aproveita (ou será que é obrigada pela tradição?) para visitar os familiares na sua província Natal. Ou seja, são milhões de pessoas que se movimentam pelas estradas e caminhos-de-ferro chineses durante aproximadamente duas semanas. Eu sou uma dessas pessoas, daí que não tenha tido muita disponibilidade para actualizar o blog ultimamente.

Neste preciso momento estou de saída para Hangzhou, o paraíso na Terra. Aproveito para vos deixar mais algumas fotos da minha linda Shaoxing, e para vos desejar, do fundo do coração, um grande ano do Porco.






quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

O transporte

A empresa onde trabalho fica em Paojiang, uma das zonas industriais de Shaoxing, que começou a ser construída em 2000. São quase 9 km desde a minha casa, em frente à estação de comboios, no limite norte do centro da cidade, até às nossas actuais instalações. Tenho duas alternativas para lá chegar. Posso apanhar o autocarro, que demora entre 20 e 30m. e me custa 0,20€, ou posso apanhar um taxi, que demora cerca de 10m, me deixa à porta, e me custa 2€. Normalmente opto pela segunda quando vou para o trabalho, de manhã, e pela primeira, quando regresso a casa, ao final da tarde. Uns chamar-lhe-ão comodismo, eu prefiro dizer que se trata de uma grande dose de sentido prático.

As nossas instalações temporárias

Para os recém-chegados, andar de taxi, já para não falar de andar a pé, pode ser uma aventura digna de registo. Eu ainda não consegui largar o vício de ir “travando” a cada manobra mais arriscada do condutor. Outros há que não conseguem deixar de se agarrar ao coração de cada vez que quase atropelamos um peão, ou de fechar os olhos sempre que o taxista entra em contra-mão. Pela minha parte, confesso que andar em contra-mão já se tornou tão habitual que até já deixei de “travar” quando isso acontece.

Esqueçam os Mercedes. Aqui os taxis são todos, uns mais recentes que outros, Volkswagen Santana

Esta semana, ao voltar para casa depois de ir jantar ao meu restaurante preferido, não resisti ao apelo do perigo e apanhei um taxi. Ao chegar à porta do meu prédio, já depois de ter pago a bandeirada e de me ter despedido do taxista, abro a porta do carro, com toda a descontracção possível, para apenas alguns milésimos de segundo depois a ver ser atingida, em grande velocidade, por um Toyota que nos ultrapassava (bem colado a nós, por sinal). Montou-se logo um grande aparato, chamou-se a polícia e apuraram-se as responsabilidades instantaneamente. Pelos vistos os procedimentos legais não são muito convidativos por aqui, pelo que normalmente se opta por resolver a questão no momento. Pelo menos é nisso que eu quero acreditar. Porque ou foi isso que aconteceu ou fui extorquido em 50€. Um preço que foi negociado, como quase tudo por aqui. Refugiei-me na minha ignorância e paguei, mas deixo aqui a pergunta aos amigos juristas: Tenho alguma responsabilidade sobre o que aconteceu?

Lembro-me que na primeira conversa que tive com um estrangeiro em Shaoxing, lhe disse que achava impossível passar 9 meses aqui sem ter um acidente. Só não esperava que fosse tão cedo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

A cidade

Shaoxing, uma pequena cidade 250 km a sul de Xangai, seria facilmente a segunda ou terceira maior cidade do nosso país. Apesar de ser difícil encontrar números fiáveis sobre população urbana, o consenso, de acordo com as pessoas com quem conversei, é de que anda à volta dos 600 mil habitantes. É famosa por dois motivos: É a terra Natal de diversos notáveis chineses – o escritor Lu Xun, considerado o pai da literatura moderna chinesa, ou o primeiro Primeiro-Ministro da China, Zhou En Lai – e é a origem do mais conhecido vinho chinês, o vinho de arroz de Shaoxing.

Como destino turístico, é vendida como uma “Veneza Oriental”, devido aos canais que atravessam as zonas mais antigas da cidade, às pitorescas pontes que os cobrem em vários pontos e às pequenas e tradicionais embarcações que os navegam. Na realidade, na maior parte da cidade, é difícil imaginar que estamos na cidade descrita nos guias turísticos. Os grandes e modernos edifícios dos hotéis e centros comerciais confundem-se com os omnipresentes néons e com o rebuliço do trânsito criando uma atmosfera de caos ordenado.

À medida que nos embrenhamos pelas ruas secundárias, damos connosco na China pictórica a que a nossa imaginação naturalmente se apega. Não são apenas os canais e os pagodes, são também as ruas estreitas, de comércio fervilhante e de constante agitação, mas que, de alguma misteriosa forma, conseguem transmitir uma sensação de tranquilidade. Uma cidade de contrastes, como, de resto, toda a China.


Cheng Shi Guang Chang (literalmente, Praça da Cidade). Centro da moderna cidade de Shaoxing.


Uma (apenas aparentemente) calma rua numa das zonas antigas da cidade.