quarta-feira, 28 de março de 2007

A censura

Não é segredo para ninguém que existe censura na China. Pela minha parte, sinto falta deste e deste site, por exemplo. A última vítima desta mordaça invisível foram os blogs. Desde a semana passada que não é possível aceder a sites do domínio "blogspot.com" a partir de uma ligação de internet chinesa (apesar de, pelo menos por enquanto, continuar a ser possível editá-los).

Tratar-se-á de um método inovador de criação de postos de trabalho?

quarta-feira, 21 de março de 2007

Yiwu ou uma gigantesca loja dos chineses

Yiwu não figura nos guias turísticos e a verdade é que não vislumbro qualquer motivo razoável para que isso alguma vez venha a acontecer. Apesar disso, a cidade concentra um número invulgarmente elevado de estrangeiros, entre moradores, visitantes habituais e outros apenas ocasionais. Afinal, trata-se do maior mercado de commodities da China (e por conseguinte um dos maiores do Mundo).


Uma característica marcante na China capitalista é a especialização. Dentro das grandes cidades é comum encontrar centros comerciais segregados por “temas”, pelo que quem quer comprar um computador se dirige a um centro comercial de aparelhos electrónicos, quem quer comprar roupa de marca precisa apenas de escolher um dos muitos shoppings que oferecem exclusivamente as marcas estrangeiras de maior renome, e quem, querendo também artigos de marca, procura uma alternativa mais económica, pode simplesmente dirigir-se a um dos mercados de artigos falsificados.

Esta segregação do consumo encontra um paralelo no sector produtivo, onde as próprias cidades/regiões acabam por se especializar em determinados sectores de actividade. A zona da Manchúria, por exemplo, é responsável pela produção da maior parte dos automóveis que congestionam as estradas deste país; e Shaoxing (sim, essa mesma Shaoxing onde eu vivo) é um grande centro têxtil.

Yiwu, por algum motivo que ninguém me soube explicar, foi “escolhida” pelo destino para se tornar numa espécie de capital do comércio de commodities. Num espaço onde apenas há meia dúzia de anos não havia nada, ergueu-se um gigantesco centro comercial, não no sentido a que nos habituámos (esqueçam o Colombo, com as suas bonitas lojas alinhadas, decoração cuidada, cinemas e fast-food), mas antes no seu sentido mais puro: um enorme espaço, do tamanho de uma cidade, onde produtores e distribuidores de todo o tipo de bens procuram interessados em comercializar os seus produtos.


Tal como na loja dos chineses, em Yiwu encontra-se de tudo a preços ridiculamente baratos. Mas enquanto que na primeira damos dois passos para irmos da zona dos guarda-chuvas até às tomadas eléctricas e leitores de MP3, em Yiwu provavelmente temos que apanhar um autocarro...


A entrada para uma das secções da cidade (brinquedos, acessórios de cabelo, ....)

Um dos muitos e intermináveis corredores dedicados apenas a artigos de higiene

segunda-feira, 12 de março de 2007

A Casa

Um rápido exercício de cálculo mental diz-me que vivi em 6 apartamentos nos últimos 6 anos. O que tem este de especial? Bem, o facto de ser na China torna-o desde logo diferente dos outros, todos situados na nossa pequena península. Mas há mais.

Pela primeira vez assinei um contrato de arrendamento. O meu pai sempre me disse para nunca assinar um contrato sem o ler, mas os cerca de 30 caracteres chineses que conheço são manifestamente insuficientes para ler seja o que for, pelo que não tive alternativa a confiar na boa fé da minha senhoria. No país da economia informal, onde proliferam as cópias e falsificações, a burocracia sobrevive e os carimbos valem mais que as assinaturas. Eu não tenho carimbos e o meu último nome passou a ser Vasco porque é demasiado complicado explicar a um chinês que tenho 4 apelidos.

Pela primeira vez vivo sozinho. Um exercício mental, um pouco mais demorado que o anterior, diz-me que nos últimos 6 anos partilhei casa com cerca de 25 pessoas de 8 nacionalidades. Tudo na vida tem o seu ciclo de vida e acho que já passei demasiado tempo da minha a dar de caras com (des)conhecidos quando abro a porta de casa. Prezo muito valores como o da desarrumação e gosto pouco de os partilhar com os outros.


o rés-do-chão

Durante os próximos 8 meses não vou ter ninguém com quem partilhar a minha desarrumação nem o meu mau humor matinal. Mas, por outro lado, não vou ter ninguém com quem partilhar a limpeza da casa de banho...

Vista do meu quarto

Vista para a estação de comboios

segunda-feira, 5 de março de 2007

Hangzhou

No Céu há o paraíso, na Terra há Su[zhou] e Hang[zhou]

Marco Polo

O paraíso fica apenas a 45 min. de Shaoxing... e rapidamente se tornou no meu destino preferido de fim-de-semana. Hangzhou, antiga capital do império durante parte da dinastia Sun, conserva poucos traços do seu passado histórico, enterrado algures entre as ruínas dos conflitos internos vividos ao longo dos séculos e, mais recentemente, da Revolução Cultural, que apagou uma parte considerável da História milenar do país.



Hangzhou encanta pela sua modernidade e pela escala humana que conseguiu manter, apesar do crescimento que experienciou nos últimos anos. Ao contrário da assustadoramente grande Xangai, onde nos sentimos esmagados pela impressionante dimensão de tudo quanto nos rodeia, a capital da província de Zhejiang é o paraíso para o visitante que gosta de passear a pé ou de bicicleta. Não é por acaso que é o destino turístico mais famoso internamente.



A cidade estende-se em redor do West Lake, o verdadeiro centro da vida nesta metrópole. Existem na China 36 lagos com o mesmo nome, mas todos eles o foram buscar a esta lagoa artificial “inventada” no século VIII. É a principal atracção turística de Hangzhou e merece bem a reputação que construiu. As imagens falam por si, mas não deixo de sentir que há qualquer coisa por lá que a lente da câmara simplesmente não consegue captar.


sexta-feira, 2 de março de 2007

Ainda as Montanhas Amarelas

São 7 longos quilómetros até ao topo. Eu subi a pé, carregando apenas uma leve mochila. Há quem o faça carregando um pouco mais.

Os produtos lá em cima custam cerca de 3 vezes o preço normal. Que percentagem desta margem de lucro ficará para os coitados que os carregam às costas?


Há quem opte por subir de teleférico, e ainda há quem, lá em cima, se renda ao comodismo na sua expressão mais incrível.

PS: Há quem diga que foi desta forma que o Presidente Mao fez a Longa Marcha