quarta-feira, 27 de junho de 2007

segunda-feira, 25 de junho de 2007

O país do futebol

Na China, como em quase todo o Mundo, somos o país do Figo e, cada vez mais, do Cristiano Ronaldo. Aqui toda a gente conhece o nosso cantinho europeu, ao contrário de muitos norte-americanos que têm tendência para nos situar na América do Sul.

Acrescente-se que comparar estes dois países não tem nada de aleatório, já que a China e os EUA têm muito mais em comum do que aquilo que se possa pensar – São ambos países enormes e ambos têm a percepção de que são o centro do mundo. A diferença é que no Império do Meio, para além de nos associarem a Macau, o futebol já conquistou as massas, ao contrário do que acontece nos EUA, onde continua a ser um desporto de nicho.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

A cidade dos Jogos Olímpicos

Beijing, a histórica capital do império, prepara-se para mais um grande desafio, à altura dos muitos com que se deparou durante a sua longa vida.

Desta vez, não se trata da invasão dos vizinhos mongóis nem da aliança anglo-francesa, muito menos do ímpeto destruidor das brigadas vermelhas, mas sim da organização de um dos maiores eventos desportivos à escala mundial – os Jogos Olímpicos.

Neste enorme metrópole, já de si uma das cidades mais poluídas do mundo, a atmosfera torna-se quase irrespirável sob o peso do pó libertado pelas obras necessárias para a recepção do evento. E não se trata apenas de construir e remodelar infra-estruturas desportivas, mas também, de melhorar os actuais acessos e de restaurar o património histórico da cidade de forma a impressionar o visitante estrangeiro, já no ano que vem.

Para se ter uma ideia da dimensão do fenómeno, consta que todas as obras deverão estar concluídas até Dezembro deste ano, de forma a permitir que toda a poeira assente!

Contudo, um dos desafios que mais preocupa as autoridades chinesas, é o de saber se a população estará preparada para deixar uma boa imagem na comunidade mundial, uma vez que aqui o conceito de civismo é muito diferente daquele a que fomos habituados pelos nossos padrões ocidentais. Cuspir para o chão, arrotar e não respeitar passadeiras, por exemplo, são hábitos perfeitamente normais e aceitáveis, que a maior parte das pessoas não encara como falta de educação.

O Governo chinês já encetou uma campanha de sensibilização, para tentar minorar o choque cultural que se adivinha, incluindo a substituição de centenas de sinais públicos com traduções erradas para o inglês (o famoso “chinglish”).

Eu espero voltar antes dos Jogos, mas, pelo sim pelo não, aconselho a todos que esperem pelo menos até ao Verão do ano que vem se fizerem tenção de visitar a grande capital.

Adivinha-se uma tarefa hercúlea... mas não nos podemos esquecer que estamos a falar da mesma civilização que construiu uma muralha de sete mil quilómetros!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Marketing espanhol

Não é segredo para ninguém que vivemos ao lado de um dos mais importantes destinos turísticos a nível mundial - Os nossos hermanos não só possuem um inegável conjunto de atractivos, como ainda os promovem bem. Vendem-se como um país de fiesta e de cultura... e começam a fazer o mesmo no maior mercado emergente do mundo.

Nanjing Road (a artéria comercial mais importante de Xangai)

terça-feira, 12 de junho de 2007

Todos os chineses são bilingues? (e o país dos dentes de uva)

Uma parte considerável dos chineses são efectivamente bilingues. Isto é, são nativos tanto no seu dialecto local como no Mandarim – o idioma oficial nacional. As excepções à regra encontrar-se-ão em Beijing – Onde o Mandarim corresponde, grosso modo, ao dialecto local – e nas regiões menos desenvolvidas do interior, onde o Mandarim não é falado com tanta preponderância.

Inglês? Digamos que se um estrangeiro quiser sobreviver na China, um bom curso de linguagem gestual será uma mais-valia muito mais importante que qualquer palavra em inglês que saiba dizer. Continua a ser uma raridade encontrar alguém que consiga articular algumas palavras no idioma de Shakespeare, particularmente à medida que nos formos afastando da capital económica, Xangai.

No pouco tempo que levo aqui já aprendi o suficiente para impressionar visitas estrangeiras (aquelas que não falam uma palavra do idioma, naturalmente) mas ainda estou muito longe do mínimo necessário para compreender uma conversa que seja entre dois chineses (apenas, por vezes, o assunto, quando reconheço 3 ou 4 palavras familiares). Apesar de tudo, começo a entrar numa fase de aprendizagem em que já vou fazendo algumas associações entre palavras novas e antigas e vou descobrindo novos significados para vocábulos já adquiridos. Por exemplo, uma das primeiras palavras que aprendi foi “meimei”, que significa “irmã mais nova”. Mas só depois de saber que “meinu” quer dizer algo do género “moça bonita” e que “nu” é um vocábulo utilizado para o sexo feminino, é que percebi por que é que é prática mais ou menos corrente chamar as empregadas dos restaurantes de “meimei”. É algo do estilo: Oh “bonitinha/irmãzinha” trás-me aí uma chávena de chá, se faz favor!

“Mei”, por si só, quer dizer algo como “bonito”. No entanto, nunca se utiliza apenas “mei” ou apenas “nu”. São vocábulos que perdem o significado quando assim soltos, precisando de um prefixo ou sufixo para quererem dizer alguma coisa.

Os nomes dos países estrangeiros são adaptados para o chinês através de aproximações fonéticas, utilizando, naturalmente, os caracteres chineses para esse efeito. Os resultados algumas vezes são interessantes e outras não têm significado absolutamente nenhum. Senão vejamos, hoje já aprendemos que “mei” quer dizer “bonito”. Se a isso juntarmos que “guo” significa país, percebemos que "Meiguo" (Estados Unidos da América) é nada menos que “país bonito”. A Alemanha também não se pode queixar da sorte, uma vez que “Deguo” siginifica algo como “país de princípios”.

O nome do nosso pequeno país à beira mar plantado foi baptizado de “Putaoya”, que, por pura coincidência sonora, significa “dentes de uva”. Não é propriamente um nome muito sexy, mas resta-nos a consolação de ainda haver pior – os nossos vizinhos de península (Xibanya) vivem em “dentes do turno Oeste”.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Lentidão

O riquexó é talvez o meio de transporte mais característico da China. Apesar de já não ser possível encontrá-lo nas maiores cidades (confesso que não sei se por impossibilidade prática ou se por proibição legislativa), é ainda um meio de locomoção bastante comum em meios mais pequenos e, preferencialmente, planos. Tal como é Shaoxing. Apesar da proliferação de táxis, que normalmente existem em número superior ao dos carros particulares em qualquer cidade chinesa (ou pelo menos é essa a impressão que dá!), o riquexó vai sobrevivendo... por enquanto.



É muito mais lento que um táxi normal e provavelmente é também mais inseguro (se bem que as manobras dos taxistas chineses insistem em desmentir este último argumento). O preço é negociável e normalmente um pouco mais baixo que a bandeirada do Volkswagen Santana. Na maior parte das vezes não o suficiente para compensar a diferença na duração da deslocação num Mundo em que, cada vez mais, o tempo é dinheiro.


Pela minha parte, inicialmente avesso a viajar no atrelado de uma bicicleta, fui-me, pouco a pouco, rendendo à lentidão do riquexó e, embalado pelo ruído da corrente, fui percebendo que a forma mais rápida de deslocação entre dois pontos é quase sempre a menos interessante.

Num mundo em que a eficiência tecnocrata substitui aqueles que deveriam ser os valores mais importantes, as pessoas apressam-se de um lado para o outro numa frenética tentativa de “optimizar” o tempo, a mesma que as leva a querer visitar “o máximo de lugares possível” quando vão em viagem. Eu recuso-me a alinhar pelo mesmo diapasão e sempre que puder vou viajar de comboio em vez de avião, de riquexó em vez de táxi, e a pé, lentamente, vendo o dia passar, em vez de correr e esquecer o que há à minha volta.