segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Ainda a Globalização

Antes de vir para a China nunca tinha comido um hamburger no KFC nem no Hard Rock Café. Nunca tinha tomado um café no Starbucks e nunca tinha feito compras no Wall Mart nem no Metro. Tinha uma ideia do que era o Hooters, mas nunca pensei que o conceito seria adaptável à China até o ter visto com os meus próprios olhos.

As grandes multinacionais entram e vão-se expandindo no país de uma forma sem precedentes, sob o olhar atento de um Partido que ainda se chama de Comunista mas que se poderia chamar outra coisa qualquer. Empresas como a General Motors, encontraram uma tábua de salvação no mercado chinês, quando a operação no próprio mercado de origem há muito tinha deixado de ser rentável.

Os arcos dourados, símbolo supremo da globalização das empresas

Por outro lado, a nova geração de chineses é consumidora compulsiva de internet e jogos em rede, ao ponto de já existirem no país clínicas para ajudar os mais adictos a ultrapassar o seu vício. No meio deste país em plena convulsão económica, apesar de os blogs continuarem a estar inacessíveis, até já é possível encomendar pizzas e marcar viagens de avião usando apenas o Messenger!

Não é fácil compreender a mentalidade dos chineses, que por um lado são orgulhosos e nacionalistas mas ao mesmo tempo veneram aquilo que vem de fora; que são empreendedores e informados mas que não demonstram qualquer interesse por mudanças democráticas que no Ocidente há muito teria sido exigidas. Mas o que é certo, é que adoptando de fora aquilo que lhes interessa e mantendo o essencial da sua própria cultura, vão construindo um modelo de desenvolvimento único no mundo e, até mais ver, de grande sucesso.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O tempo

Costuma dizer-se que, na vida, existem apenas duas coisas certas – a morte e os impostos. Não concordo com nenhuma delas. Existem inúmeras e comprovadas formas de fugir tanto aos impostos como à morte, sendo que apenas alguns iluminados conseguem escapar desta última. A única coisa que, quanto a mim, é inevitável é o passar do tempo. Somos livres de tomar as decisões que bem entendamos e a imaginação é o único limite para as diferentes vidas que podemos viver, mas nunca qualquer opção que tomemos poderá, de forma alguma, contornar ou alterar a duração de um minuto ou de um ano.

Nada como a inevitabilidade do passar do tempo me faz sentir tão pequeno, e isso, na maior parte das vezes, nem é mau, é quase libertador.

Esta reflexão chega num período em que vejo o tempo que me resta na China a escorrer-me entre os dedos. Por mais força que usemos para segurar o punhado de areia que temos nas mãos, ele acaba sempre por nos fugir. Os poucos grãos que conseguimos segurar não serão mais que as memórias dos bons momentos que ficarão connosco para sempre.

Esta impossibilidade de segurar o tempo, principalmente quando se avizinham períodos de decisões, é menos libertadora do que angustiante.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Globalização é...

... ouvir Raeggeton (uma espécie de hip hop gangster porto-riquenho, para quem não conhece) numa discoteca na China.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Dias maus

- Do que gostas menos na China?
- Há muitas pequenas coisas que me irritam naqueles dias em que parece que tudo corre mal.
- Que tipo de coisas?
- Passarem-me à frente nas filas é provavelmente a que mais mexe com o meu sistema nervoso.
- E como reages?
- Nos dias bons reajo com humor. Nos dias maus pode variar entre a cara de poucos amigos e o esquartejamento. Normalmente limito-me a dizer baixinho “animais”.
- E, dessa forma, não te estarás também a comportar como um animal?
- Quando digo baixinho “animais” não me excluo do grupo dos destinatários.
- Então desde que te incluas no grupo de destinatários da mensagem podes chamar o que quiseres a quem quiseres?
- Posso. Desde que fale em português até posso chamar-lhes coisas muito piores.
- Não te conhecia tão ácido.
- Estou a ter um dia em que parece que tudo corre mal.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A morte das verdades

- Do que gostas mais na China?
- Gosto das diferenças.
- São muitas?
- Começando nas aparentes e acabando nas ocultas, não são poucas as que existem sobre o mesmo fundo de humanidade.
- E porque gostas delas?
- Porque me permitem questionar todas as minhas verdades. De facto, sinto que as verdades deixaram de existir.
- O que existe então?
- Existem opiniões.
- E a China conseguiu mudar as tuas opiniões?
- São as experiências e a reflexão que mudam as opiniões e não os lugares.
- E as tuas experiências na China mudaram as tuas opiniões?
- A idade vai-nos tornando mais cépticos. Ou conservadores. Eu continuo um optimista.
- Em que acreditas?
- Em quase nada.

- Acreditar em Nada continua a ser acreditar em alguma coisa.