quarta-feira, 25 de março de 2009

Em Viagem X - No paraíso dos mochileiros

Vang Vieng é destino obrigatório para todos os mochileiros que passam pelo Laos. O conceito que transformou esta minúscula vila no norte do Laos num destino tão popular é muito simples, e ficou conhecido como “tubbing”. Consiste em descer o rio, levado pela corrente, deitado numa câmara-de-ar de camião.

Em 2007 (visto de "dentro")
Em 2009 (visto de fora)
Suficiente? Não. Havia que arranjar alguma coisa para fazer durante a noite. E pode haver algo melhor do que vir para o Laos, comer hamburgers e pizzas, deitado num colchão a ver séries americanas? Para muita gente a resposta é não. O conceito é de tal modo atraente que há quem venha para um par de dias e acabe por passar semanas ou mesmo meses (!)


Da primeira vez que vim cá, rendi-me a esta aberração que é estar no Laos sem estar no Laos e que, diga-se, pode ser bastante divertida, por um lado, e relaxante, por outro, desde que se esteja com o estado de espírito adequado. Desta vez não estava, e, por isso, preferi passar os dias de bicicleta pelos arredores e ir para a cama cedo com os meus livros.


Os arredores de Vang Vieng são maravilhosos; e com toda a gente a chapinhar dentro de água não se encontrava quase ninguém pelo caminho. Os dois miúdos que aparecem na fotografia abaixo (há mais um na parte de trás do veículo) ofereceram-me ópio (!) Foi a segunda vez que mo ofereceram no Laos e a primeira tinha sido uma velhota…


O ponto alto da minha passagem por Vang Vieng foi quando, já perto do pôr do Sol, decidi subir um dos muitos montes característicos da região e me deparei com uma vista de tal modo espectacular, que não há fotografia que lhe faça justiça. E toda para mim!


Mas ainda havia uma surpresa reservada para o dia da minha partida. Acordei de madrugada para apanhar o primeiro autocarro do dia para Vientiane, e deparei-me com a mais famosa cerimónia do Laos, em que os monges se juntam, diariamente, e fazem uma ronda pelas principais ruas da localidade para recolher esmolas e comida. Na cultura budista, a melhor forma de “adquirir” bom Karma é tratar bem os monges, não só desta forma como também reservando-lhes alguns direitos especiais – nos transportes públicos da Tailândia, por exemplo, há sempre lugares reservados para monges, que também não têm que pagar bilhete.


No total já passei mais de um mês no Laos, mas foi no meu último dia no país, e totalmente por acaso, que vi finalmente esta importante cerimónia. Acho que é altura de começar a recuperar do karma negativo que já devo ter acumulado. Há um monge tailandês que tem aulas na sala ao lado da minha. Amanhã vou convidá-lo para almoçar.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Em viagem IX - Luang Prabang

Luang Prabang é a cidade mais famosa do Laos. Com um centro histórico pequeno e recheado de templos, museus e bonitos edifícios de estilo colonial; com um ambiente descontraído, à beira-rio, e com muitas opções de lazer, quer dentro da cidade quer nos arredores, é, sem dúvida, um sítio a não perder para todos os que possam ter a oportunidade de visitar este pequeno país.

Tinha estado emLuang Prabang há pouco mais de um ano atrás e achei a cidade ainda mais bonita do que quando a deixei. O número de turistas também aumentou e os preços também me pareceram ligeiramente inflacionados. Em todo o caso, fica ainda a anos luz dos destinos mais turísticos da Tailândia.

Estive em algumas partes onde ainda não tinha estado mas fiz questão de ainda deixar outras para a próxima a próxima visita.

Ficam as imagens:

segunda-feira, 16 de março de 2009

Em viagem VIII - O país mais bombardeado do mundo

The Guardian reported, on Wednesday 3rd December 2008, that Laos was hit by an average of one B-52 bomb-load every eight minutes, 24 hours a day, between 1964 and 1973. US bombers dropped more ordnance on Laos in this period than was dropped during the whole of the second world war.

Apesar de nunca ter estado oficialmente envolvido na guerra do Vietname o Laos detém o triste recorde de ser o país mais bombardeado do mundo, em termos de quilos de bombas por habitante.


Enquanto durou a guerra do Vietname, os habitantes deste país foram-se habituando a passar grande parte da sua vida em grutas, que graças à topografia do país, são abundantes. Hoje em dia praticamente todas são visitáveis.


Uma delas chegou mesmo a ser utilizada como Sede do Banco de Luang Prabang. Na foto abaixo pode-se ver o gabinete de contabilidade

Hoje em dia os locais vão encontrando outro tipo utilidade para parte das bombas que nunca chegaram a explodir...

Vivendo no Império do Meio há 2 anos, já me habituei a ouvir, da boca de quase todos os estrangeiros "Isto só na China". Será que isto é caso para dizer: "isto só no Laos"?

domingo, 15 de março de 2009

Em viagem VII - Dias preguiçosos

Para chegar a Muang Khoa, no Norte do Laos, é necessário negociar o preço de um tuk tuk na cidade mais próxima. Esta pequena aldeia à beira-rio, como quase todas no Laos, destaca-se pela impressionante paisagem envolvente, pela tranquilidade e pela possibilidade de apanhar um barco para Muang Ngoi, uma (ainda mais) pequena povoação, uma hora rio acima.

As opções de lazer, para além de passar o dia inteiro deitado numa rede montada na varanda do bungallow sobre o rio (que corresponde a 90% das opções de alojamento), são: caminhadas, passeios de bicicleta e passeios de canoa. Nada mau. Decido ficar uns dias por estas bandas, explorando um pouco os arredores, tirando fotografias e, mais importante, respirando ar puro. É que um ano de China, onde o céu só é azul duas vezes por mês, é suficiente para fazer mossa.

Muang Ngoi, a tal cidade rio acima, apesar de vir referenciada nos guias do costume, é, pelo menos, tão sossegada como Muang Khoa... e ainda tem a vantagem da total ausência de veículos motorizados. Acrescentámos uma actividade às supracitadas e aderimos ao desporto nacional, e herança colonial- a petanca. Foram dias preguiçosos. Foram dias lentos. Foram dias bons.

Rua principal de Muang Ngoi

quarta-feira, 11 de março de 2009

Em viagem VI - Primeiros passos no Laos

Para viajar no Laos é preciso tempo. Apesar da pequena dimensão do país, a rede rodoviária está muito pouco desenvolvida e, para chegar a alguns sítios, a melhor opção (e por vezes a única) continua a ser o barco. Existe apenas uma estrada em condições, que, atravessando o Laos, liga a China com a Tailândia, e que foi financiada quase na totalidade por estes dois países.

Chegámos ao Laos por terra e fomos percorrendo parte do Norte até chegar à capital Vientiane. Passámos muitas horas em autocarros, barcos e tuk tuks (o transporte local típico, que consiste numa motorizado com atrelado), quase sempre em condições de conforto mínimo. Mas o que importa isso quando estamos no Laos? Se estamos no Laos há que fazer como a gente do Laos... e sorrir.

Depois de vários vários tuk tuks e autocarros chegámos a Ban Nambak, uma terra por onde passam muitos autocarros a caminho de outros lugares, mas onde muito poucos param. Decidimos ficar uma noite.
Por coincidência, a pensão/restaurante onde ficámos pertencia a um casal de chineses, de Sichuan. Precisamente a minha província. Deu para matar saudades da excelente comida Sichuanesa e trocar umas ideias sobre o Laos - alertaram-me, entre outras coisas, para as precárias condições de higiene dos restaurantes locais (onde é que eu já ouvi esta história?).
Terminei a noite a traduzir o menu de chinês para inglês... a troco de uma cerveja.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Em viagem V - Pela estrada fora (2)

No último dia da caminhada o calor intensificou-se e as paisagens foram-se tornando cada vez mais áridas. Algumas recordavam-me mesmo o interior algarvio

As pernas já começavam a pesar e desde que saímos, de manhã cedo, que procurávamos alguém que nos pudesse dar uma boleia. No dia anterior vimos passar muitos tractores que nos poderiam ter ajudado em parte do percurso e acabámos mesmo por apanhar uma boleia, ainda que breve, de uma pick-up. Mas hoje os únicos veículos que iam passando eram motas, quase sempre com 2 ou mesmo 3 pessoas.

A certa altura avistamos mais uma Estupa, no alto de um monte, e ganhámos coragem para subir as centenas de degraus que nos separavam dele. O nosso esforço foi recompensado pelo facto de termos apanhado a última etapa da sua construção - a pintura - e por termos conhecido o mestre de obras que fez questão de posar para a fotografia, com os seus dois colegas, de uma forma bem original.

Por volta da hora de almoço chegámos, inesperadamente, a um grande lago onde fomos convidados para almoçar, primeiro por uma família, e depois por um grupo de amigos (incluindo dois monges) que ali estavam. Juntámos todos para uma fotografia e ainda nos ofereceram uma boleia, de mota, até Menghun. Precisamente o nosso destino.

Conseguimos chegar ao ainda antes do final do dia a Jinghong, de onde tínhamos saído e, depois de educadamente termos recusado o convite para passar o Ano Novo Chinês com a família que tínhamos conhecido no Lago, decidimos despedir-nos de Xishuangbanna e começar a viagem em direcção ao Laos no dia seguinte.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Em viagem IV - Pela estrada fora (1)

Quando finalmente consegui sair de Xi De, não só logrei comprar o bilhete para Kunming no próprio dia como ainda, já dentro do comboio, consegui fazer um upgrade para um lugar ligeiramente mais confortável do que da vez anterior.

Depois de me encontrar com o António em Kunming, seguimos para Xishuanbanna, no Sul de Yunnan. Foi a segunda vez que estive em Jinghong, a maior cidade do sul, mas desta vez fui com mais tempo para explorar os arredores. Ponderadas as opções, decidimos apanhar um autocarro ainda mais para Sul e de lá voltar a pé para Jinghong. Apesar de não ser o percurso mais original do mundo (quase todos os mochileiros que passam por esta região acabam por fazer algo do mesmo género), a verdade é que não vimos mais turistas durante os 3 dias em que andámos por lá, e a possibilidade de comunicar com os locais no seu idioma é sempre garantia de ter experiências mais autênticas.

As paisagens eram interessantes, apesar de algo monótonas depois de umas quantas horas de caminhada. O clima no Sul da China é tropical e notava-se que estamos na estação seca.

Chegámos à primeira aldeia por volta da hora de almoço e "convidámo-nos" para comer em casa de um dos locais. A etiqueta neste tipo de situações diz que se deve deixar uma pequena quantia em sinal de agradecimento ao anfitrião. Este, por sua vez, recusa duas vezes antes de acabar por a aceitar. Esta primeira aldeia tinha ainda a particularidade de grande parte das casas terem telhados azuis. Estamos a falar de uma aldeia para onde não existem transportes públicos, supostamente isolada da civilização, onde todas as construções são em madeira, mas onde saltam à vista os luminosos telhados azuis de alumínio.

Entretanto conseguimos descobrir que a empresa que foi contratada para construir a estupa local também tem no seu portfolio, imagine-se, todo o tipo de telhados, em várias tonalidades de azul. É a mesma história repetida vezes sem conta em diferentes latitudes: perde-se no pitoresco mas ganha-se no conforto. E desconfio que para os locais a escolha seja fácil.

Nesse dia, depois de almoço ainda arrepiámos caminho para a aldeia seguinte, na esperança de encontrar onde dormir.

Fomos dando de caras com alguns búfalos...

... e conseguimos chegar ao destino antes do pôr do sol.

Voltámos a "convidar-nos" para passar a noite em casa de alguns locais, e após quebrarmos o gelo inicial, acabámos por passar um serão bastante agradável, entre conversas sobre a vida e outras coisas e uma filmagem de um festival de minorias étnicas, recente, em que os Ha Ni Zu (a minoria maioritária nesta última paragem) também tinham estado presentes. Tivemos a sorte de grande parte da família estar ausente para comemorar o Ano Novo em outras aldeias e, como tal, haver ainda muito chão livre para estendermos a nossa manta e, depois de um dia cansativo, gozar um sono repousante, apenas interrompido a espaços pelo roncar do chefe de família.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Em viagem III - Em família

Para além da maravilhosa (ainda que cansativa) experiência de participar num casamento tradicional na China profunda, foi interessante ficar a conhecer mais uma pequena parte deste gigante país, que é tão bonita como todas as outras mas que não faz parte de absolutamente nenhum roteiro turístico. Tive um bocadinho de China só para mim, e, em 5 dias, tanto deu para brincar na neve...


... como para passear pelo campo...

... ainda que a parte mais interessante da viagem tenha sido mesmo visitar a terra onde o meu anfitrião (chamemos-lhe Jack) nasceu. Tal como a maior parte das aldeias que vi por lá era demarcada por um muro relativamente baixo de barro (?), mas suficientemente forte para impedir a entrada do progresso. Foi a terceira vez que o Jack voltou à sua terra natal, desde que saiu de lá, com a mãe, há mais de 15 anos... e duvido que tenha notado alguma diferença. Os únicos sinais de modernidade era apenas as antenas parabólicas (que mais?) e tudo o resto parecia parado no tempo.
Fui recebido em Xi De, e por todas as outras terras por onde fui passando, como se fizesse parte da família. Duvido que algum deles alguma vez venha a ler isto, mas de qualquer forma não custa tentar:
谢谢你们。 我会想你我好兄弟。
Obrigado a todos.