segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Coisas que também acontecem na China

O meu pai, acérrimo defensor da teoria de que nada se deve poisar sob pena de ser deixado esquecido para toda a eternidade, deixou, precisamente no último dia da sua estadia chinesa a pequena mala de cintura onde tinha carteira, máquina fotográfica e, ainda mais importante, passaporte, no restaurante japonês onde tomámos o último almoço em Shaoxing. Nada de excepcionalmente grave pensámos. Mas estávamos errados.

Vinte minutos passados no restaurante conversando com empregados e, poucos, clientes foram adensando uma atmosfera kafkiana em que estranhamente ninguém fazia ideia do paradeiro da mala que o meu pai, juraria a pés juntos se se recordasse de como o fazer, havia deixado pendurada no braço da cadeira apenas alguns mintos atrás

Ingénuo, recusei-me a acreditar que um dos empregados a teria escondido. Este tipo de coisas não aconte na China. Não é fácil explicá-lo, mas há um misto de ingenuidade e subserviência que caracteriza os empregados chineses em geral, que simplesmente afasta a hipótese de que teriam o desplante e coragem de roubar os pertences de alguém. Estrangeiro, ainda por cima.

Começo a desconfiar do casal de clientes que saiu pouco depois de nós termos voltado para buscar a mala enquanto ligo para o consulado de Xangai para receber notícias pouco animadoras sobre o tempo necessário para conseguir um novo passaporte e visto. Eu já perdi as esperanças de encontrar seja o que for e o meu pai vai ter direito a mais uma semana de férias na China. Penso na mala como um custo afundado. Agora preocupo-me apenas em como mandar o meu pai de volta para casa o mais depressa possível.

É preciso uma declaração da polícia e as esperanças que tinha perdido de encontrar a mala do meu pai reaparecem quando sinto o olhar nervoso da empregada ao ser confrontada com o meu pedido para que chame as autoridades. Afinal nada está perdido, basta insistir que se chame a polícia imediatamente até que, por milagre, a mala volte a aparecer, com o conteúdo intacto.

Foi simultâneamente um alivio e uma sentimento de raiva e desolação... até porque era um dos meus restaurantes preferidos.

3 comentários:

Vic disse...

lamento paulo,

sei como te deves sentir.
felizmente terminou bem.
apesar dessa legitima raiva e desolaçao, acredito que por teres um coraçao aberto saberás perdoar e recuperar alegria e o prazer, com que desfrutavas esses manjares.
Agora eu se fosse chines, nao te perdoava a opçao "sushi" à "noodles"!

Grande Abraço!!
VIC

ardinario disse...

Esse "esquecimento" parece-me demasiado suspeito. Tenho a sensação que alguém (não quero adiantar nomes) queria passar mais uma temporada na China a todo o custo ;)

Anónimo disse...

Eu não queria dizer nada, mas já que o ardinário me descobriu a careca...juro que a "pequena" só me piscou o olho duas vezes...