Segundo conta a minha mãe, umas das maiores vergonhas que a fiz passar foi quando, ainda na Coimbra Natal, exclamei, alto e bom som, enquanto cruzava uma passadeira: “Mãe, aquele senhor tem a cara pintada de preto!”
A expressão do primeiro contacto consciente com um tom de pele diferente, no meu caso, reflecte a ingenuidade e pureza com que as crianças observam o Mundo. Lembro-me amiúde desta história quando me cruzo com crianças na China e revejo aquele que, imagino, terá sido o meu olhar de espanto, nos olhos amendoados de cada uma delas, fixando-me curiosamente.
Normalmente a curiosidade torna-se em vergonha quando as confronto directamente com o desconhecido e lhes mostro a língua ou lhes digo “hello”. Em lugares mais turísticos não escapo às objectivas dos pais que querem eternizar o primeiro contacto das suas crias com o Estrangeiro. Imagino, brincando, em quantas salas de estar chinesas já estarei eu, emoldurado.
Na China, a julgar pela capa do meu livro, sou efectivamente diferente e sinto-o cada dia nos olhares de crianças e adultos anónimos.
2 comentários:
:)
Um relato tão genuíno que rouba, com certeza, sorrisos a quem passa aqui e te lê!
:o)
Para além de seres diferente... és feio!!! :)
Pablito, hasta pronto!
Dia 4 chegada a Xangai!
Abraço
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