segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Hasta Siempre Shaoxing

Terminada a aventura chinesa, iniciou-se hoje uma outra cuja unica certeza e' a data em que terminara' - Dia 19 de Janeiro, data do meu regresso a Lisboa desde Xangai. Escrevo este post ja do Sul do pais, onde vou atravessar a fronteira terrestre com o Laos e iniciar uma viagem de cerca de 5 semanas pelo Sudeste Asiatico. O plano e' descer o Laos, entrar no Cambodja pelo Norte e dai' seguir ou para o Vietname ou para a Tailandia.

Se o acesso 'a internet nao for muito complicado vou continuar a actualizar o blog com algumas noticias sobre a minha viagem... ou pelo menos com algumas fotos.

A "Shaoxing Redemption" terminou. Mas pode ser que volte com algumas diferencas no proximo ano. Uma delas vai com certeza ser "Shaoxing".

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Números (Eu cá não sou supersticioso)

O que têm em comum os prédios e os recém-nascidos chineses? Ambos começam por 1. Isto é, os prédios não têm andar zero (ou rés-do-chão, em bom português) e as crianças quando nascem vêm logo com um ano. Aqui, usando as palavras de um chinês amigo, “zero is nothing”.

As vantagens deste sistema não são tão evidentes quanto os seus riscos. Se por um lado posso tdizer que moro no 8º andar em vez de no 7º - E na China quanto mais alto é o andar maior é o status – por outro as questões que envolvem a idade de consentimento são algo mais delicadas. Pelo sim pelo não, convém perguntar sempre a data de nascimento e não apenas a idade.

Para além do zero, que se terá perdido algures entre a Índia e a China, existem outros números que, apesar de serem reconhecidos como tal, são alvos de descriminarão. Falo essencialmente do quatro, que, devido à sua pronunciação ser muito parecida com a da palavra “morte” é um número de que todos os chineses têm pânico. Um apartamento num 4º andar é mais barato que um no 3º ou no 5º, pela simples conotação de má-sorte que tráz consigo. Alguns construtores chegam mesmo a eliminar o 4 dos seus edifícios, substituindo-o por 3A, por exemplo, para tentar menorizar o prejuízo.

Em sentido contrário, outros números, tal como oito, são associados a boa-sorte, também devido a semelhanças de pronunciação com outras palavras mais simpáticas. Apenas para dar um exemplo, os números de telefone que tenham muitos oitos são mais caros.

Eu, vivendo no apartamento 808, fui logo bafejado pela sorte assim que cheguei a Shaoxing. Por outro lado, o facto do meu número de telefone acabar em 4, dá-me direito a promoções nos carregamentos!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Shanghai is not China

Eu e um colega chinês num bar em Xangai.

Ele (para o barman): Ni you re yin liao ma?
O Barman (para mim): What is he saying? I don't understand...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A perda da inocência

Hoje, pela primeira vez, comi cão... e gostei.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Coisas que só acontecem na China - II

Um autocarro urbano, a meio do seu percurso e cheio de passageiros, parar 10 minutos num posto de gasolina para abastecer.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Conversa de Discoteca

Ela: What's different in your country?

Eu (pensei): A música não é horrível; 80% das pessoas não estão nas mesas a beber e a jogar dados, mas sim na pista a dançar; a cerveja vem sempre fresca; há pessoas que se beijam; o rácio homens/mulheres é normalmente equilibrado; não se jogam jogos em que o perdedor tem que girar 10 vezes sobre si mesmo e depois beber um copo de penalty; não há gajos de tronco nu a simular combates de luta livre com os amigos... Ah, e quando estamos fartos deste lugar não pegamos nas bebidas e vamos para o bar do lado.

Eu (disse): Not much.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Pensamentos vagabundos

Uma das vantagens de eles comerem os cães é que não se anda constantemente a pisar dejectos.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Momentos especiais

Snow Mountain Music Festival em Lijiang. Não podia haver melhor forma de terminar uma viagem intensa como foi esta. Até sempre.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Caminhando na Garganta do Tigre que salta

O que faz das viagens momentos tão especiais? Não querendo responder pelos outros e sabendo desde logo que as motivações para viajar podem assumir contornos muito distintos, admito-me a arriscar uma explicação algo simplista: Permitem-nos afastar-nos, ainda que momentaneamente, do nosso quotidiano e das nossas rotinas. E, normalmente, quanto mais afastamos a nossa mente desse dia-a-dia melhor conseguimos aproveitar o (quase sempre escasso) tempo que temos para conhecer outros lugares. Viajar é uma forma de libertação que não tem muitos paralelos na vida moderna, e sua importância na vida das pessoas é um case-study fascinante.

Pela minha parte, admito o desejo, por vezes pungente, de fugir física e mentalmente para algum lugar que imagino sempre melhor, onde me possa recriar de acordo com a paisagem e as pessoas que encontro.


Penso nestas coisa, e em outras similares, e em outras completamente diferentes, durante os dois dias de caminhada por uma das gargantas mais impressionantes do Mundo – a Tiger Leaping Gorge. Penso em quantas pessoas já terão perdido a vida por estes remotos caminhos, engolidas por um derramamento de terra ou perdidas para sempre devido a passo em falso. Penso que os poucos caminhantes que encontro pelo caminho são sempre estrangeiros enquanto os chineses preferem percorrer, de autocarro, a nova estrada de alcatrão lá em baixo junto ao rio. Penso que o Baijiou sabe muito melhor quando bebido a meio de uma montanha numa esplanada sobre uma garganta, observando os cumes de neve em frente e conversando sobre coisas como estas e muitas outras.

Quarto com vista para o mundo por 3€

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Shangri-la, the city formerly known as Zhongdian

Uma cidade (re)baptizada com um nome que se passou a associar com um paraíso terrestre augura à partida um par de dias no mínimo interessantes. A primeira surpresa foi a quase ausência de turistas. Ou pelo menos das massas que se adivinhavam em mais um período festivo chinês.

Zhongdian é o início do mundo tibetano, “a flavour of Tibet if you can’t make it to the real thing” como dizia o guia do costume, e possibilita ao visitante (ou pelo menos a este) as primeiras férias da China dentro da própria China. A cidade velha é uma vila tibetana sorridente e bem conservada que, do alto dos seus mais de 3000 metros, convida o visitante a deixar-se relaxar ao sabor da cerveja local, carne de iaque e outras excentricidades que por estes lados são surpreendentemente bem toleradas.


Esqueço-me do plano inicial, se é que cheguei a ter algum, e deixo-me ficar, indolente, por alguns dias, perdido na vida tranquila deste mundo novo, calcorreando as ruas empedradas, absorvendo um pouco desse místico mundo budista nos fascinantes mosteiros locais e esquecendo-me por momentos do rebuliço da China moderna.

Mas a China moderna está à espreita. Os empresários do Oeste, impelidos pela acção de marketing governamental (o rebaptizado, leia-se) apressaram-se a investir nas actividades do costume e a descaracterização, aos poucos, vai-se começando a fazer notar.



As semelhanças com a Shangri-la de Hilton existem mas não são suficientes para imaginar a acção do livro neste local. Afinal, o que tornava Shangri-la tão especial era essencialmente a sua inacessibilidade, e 8 horas no pior autocarro da China, com paisagens maravilhosas a cada curva, estão ao alcance de qualquer mortal.


quinta-feira, 11 de outubro de 2007

É oficial...

... Foram, até ao momento, 256 dias consecutivos a comer arroz.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Os polícias virtuais...

... Ou um eufemismo para censura. Adiante, alguns excertos de um artigo do jornal de referência China Daily - jornal generalista chinês, escrito em língua inglesa:

Two "virtual" police officers will start surfing the net from Saturday to help combat pornography and other illicit activities (...)
They will be on the watch for websites that incite secession and promote superstition, gambling and fraud (...)
"It is our duty to wipe out information that does public harm and disrupts social order" Zhao Hongzhi, deputy chief of the bureau's Internet surveillance center, said. (...)
"The virtual police officers will faithfully fulfill their duties, listen to the suggestions of netizens and protect them from harm", Zhao said.

PS: E eu continuo sem acesso, entre outros sites, a blogs, mas sempre atento às novas formas de contornar o problema (sendo que algumas dessas formas vão sendo descobertas e... censuradas! Para proteger o cidadão chinês desses terríveis vícios ocidentais, claro)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Outras impressões de Macau

Já tinha ouvido falar, há muitos anos atrás curiosamente, de uns spider-man que existiriam em Macau e que utilizariam as suas habilidades para fins menos honestos que o original da banda-desenhada, e que, devido a isso, muitos moradores seriam forçados a colocar grades nas janelas e varandas das suas casas. Não sei se estes artistas continuam a existir e, caso ainda existam, duvido também que sejam um exclusivo de Macau.

O que é certo é que as grades existem mesmo e alguns dos cenários que criam não deixam de impressionar.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A ilusão de um breve regresso a casa

Ruas cujos nomes fazem sempre sentido, restaurantes que incluem bacalhau e caldo verde na ementa e a, maravilhosa e única, calçada portuguesa são apenas algumas das pequenas coisas que fazem de uma visita a Macau algo de especial para um português. Isso e os casinos, claro.

Surpreendeu-me, por um lado, o património histórico muito bem preservado, a fazer lembrar o centro histórico das mais bonitas cidades portuguesas, e, por outro, o facto de poucas pessoas saberem falar o idioma dos colonizadores. Quer dizer, confesso que esta última não foi bem uma surpresa, uma vez que já muita gente mo tinha dito. Aquilo de que não estava mesmo nada à espera era que conduzissem pela esquerda. Contingências de ter um vizinho chamado Hong Kong, presumo.



segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Coisas que também acontecem na China

O meu pai, acérrimo defensor da teoria de que nada se deve poisar sob pena de ser deixado esquecido para toda a eternidade, deixou, precisamente no último dia da sua estadia chinesa a pequena mala de cintura onde tinha carteira, máquina fotográfica e, ainda mais importante, passaporte, no restaurante japonês onde tomámos o último almoço em Shaoxing. Nada de excepcionalmente grave pensámos. Mas estávamos errados.

Vinte minutos passados no restaurante conversando com empregados e, poucos, clientes foram adensando uma atmosfera kafkiana em que estranhamente ninguém fazia ideia do paradeiro da mala que o meu pai, juraria a pés juntos se se recordasse de como o fazer, havia deixado pendurada no braço da cadeira apenas alguns mintos atrás

Ingénuo, recusei-me a acreditar que um dos empregados a teria escondido. Este tipo de coisas não aconte na China. Não é fácil explicá-lo, mas há um misto de ingenuidade e subserviência que caracteriza os empregados chineses em geral, que simplesmente afasta a hipótese de que teriam o desplante e coragem de roubar os pertences de alguém. Estrangeiro, ainda por cima.

Começo a desconfiar do casal de clientes que saiu pouco depois de nós termos voltado para buscar a mala enquanto ligo para o consulado de Xangai para receber notícias pouco animadoras sobre o tempo necessário para conseguir um novo passaporte e visto. Eu já perdi as esperanças de encontrar seja o que for e o meu pai vai ter direito a mais uma semana de férias na China. Penso na mala como um custo afundado. Agora preocupo-me apenas em como mandar o meu pai de volta para casa o mais depressa possível.

É preciso uma declaração da polícia e as esperanças que tinha perdido de encontrar a mala do meu pai reaparecem quando sinto o olhar nervoso da empregada ao ser confrontada com o meu pedido para que chame as autoridades. Afinal nada está perdido, basta insistir que se chame a polícia imediatamente até que, por milagre, a mala volte a aparecer, com o conteúdo intacto.

Foi simultâneamente um alivio e uma sentimento de raiva e desolação... até porque era um dos meus restaurantes preferidos.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Coisas que só acontecem na China

Regressar de Hong Kong tarde com os meus pais e irmã e contratar, a um dos muitos angariadores omnipresentes nas chegadas dos aeroportos, uma viagem, naquilo que até ao momento pensávamos que seria um táxi, para percorrer os cerca de 40 km que nos separam de Shaoxing.

Achar estranho quando o angariador/presumido-taxista-até-ao-momento nos encaminha para um dos balcões do aeroporto, de onde uma das senhoras nos acompanha até ao parque de estacionamento subterrâneo.

Esperar 5 minutos por um carro pequeno e velho. É uma viagem de meia-hora... que se lixe, sempre é melhor que ir de autocarro.

Ter que engolir o facto do condutor, de modos rudes e pouco amigo de conversas, nos levar por caminhos secundários esquecendo-se da moderna auto-estrada que liga o aeroporto a Shaoxing.

Escutar a minha mãe em pânico no banco de trás quando o condutor encosta numa berma escura num local que dificilmente poderia ser mais ermo, onde está já um carro parado à nossa espera.

Pressentir o meu pai em sobressalto quando reparamos que o carro que está à nossa espera não tem matrícula e que, para além disso, acaba de parar outro carro atrás de nós.

Engolir em seco e convencer os meus pais (e a mim próprio) que está tudo bem e que na China estas coisas são mesmo assim. Provavelmente, aqueles simpáticos senhores ainda acabariam a noite connosco a comer umas espetadas de poodle e a dizer poemas da dinastia Tang.

Efectuar o transbordo para o carro da frente, ao som dos gritos de uma menina sentada na estrada não muito longe de nós, tentando dominar o aperto que sinto no coração e nunca mostrando fraqueza perante a família assustada.

Prosseguir viagem na viatura sem matrícula pensando que se estivesse num país da América Latina, ou mesmo no meu, por esta altura algo de muito grave já teria acontecido.

Respirar fundo quando por fim chegamos a Shaoxing e pensar que na China estas coisas são mesmo assim.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Ainda a Globalização

Antes de vir para a China nunca tinha comido um hamburger no KFC nem no Hard Rock Café. Nunca tinha tomado um café no Starbucks e nunca tinha feito compras no Wall Mart nem no Metro. Tinha uma ideia do que era o Hooters, mas nunca pensei que o conceito seria adaptável à China até o ter visto com os meus próprios olhos.

As grandes multinacionais entram e vão-se expandindo no país de uma forma sem precedentes, sob o olhar atento de um Partido que ainda se chama de Comunista mas que se poderia chamar outra coisa qualquer. Empresas como a General Motors, encontraram uma tábua de salvação no mercado chinês, quando a operação no próprio mercado de origem há muito tinha deixado de ser rentável.

Os arcos dourados, símbolo supremo da globalização das empresas

Por outro lado, a nova geração de chineses é consumidora compulsiva de internet e jogos em rede, ao ponto de já existirem no país clínicas para ajudar os mais adictos a ultrapassar o seu vício. No meio deste país em plena convulsão económica, apesar de os blogs continuarem a estar inacessíveis, até já é possível encomendar pizzas e marcar viagens de avião usando apenas o Messenger!

Não é fácil compreender a mentalidade dos chineses, que por um lado são orgulhosos e nacionalistas mas ao mesmo tempo veneram aquilo que vem de fora; que são empreendedores e informados mas que não demonstram qualquer interesse por mudanças democráticas que no Ocidente há muito teria sido exigidas. Mas o que é certo, é que adoptando de fora aquilo que lhes interessa e mantendo o essencial da sua própria cultura, vão construindo um modelo de desenvolvimento único no mundo e, até mais ver, de grande sucesso.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O tempo

Costuma dizer-se que, na vida, existem apenas duas coisas certas – a morte e os impostos. Não concordo com nenhuma delas. Existem inúmeras e comprovadas formas de fugir tanto aos impostos como à morte, sendo que apenas alguns iluminados conseguem escapar desta última. A única coisa que, quanto a mim, é inevitável é o passar do tempo. Somos livres de tomar as decisões que bem entendamos e a imaginação é o único limite para as diferentes vidas que podemos viver, mas nunca qualquer opção que tomemos poderá, de forma alguma, contornar ou alterar a duração de um minuto ou de um ano.

Nada como a inevitabilidade do passar do tempo me faz sentir tão pequeno, e isso, na maior parte das vezes, nem é mau, é quase libertador.

Esta reflexão chega num período em que vejo o tempo que me resta na China a escorrer-me entre os dedos. Por mais força que usemos para segurar o punhado de areia que temos nas mãos, ele acaba sempre por nos fugir. Os poucos grãos que conseguimos segurar não serão mais que as memórias dos bons momentos que ficarão connosco para sempre.

Esta impossibilidade de segurar o tempo, principalmente quando se avizinham períodos de decisões, é menos libertadora do que angustiante.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Globalização é...

... ouvir Raeggeton (uma espécie de hip hop gangster porto-riquenho, para quem não conhece) numa discoteca na China.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Dias maus

- Do que gostas menos na China?
- Há muitas pequenas coisas que me irritam naqueles dias em que parece que tudo corre mal.
- Que tipo de coisas?
- Passarem-me à frente nas filas é provavelmente a que mais mexe com o meu sistema nervoso.
- E como reages?
- Nos dias bons reajo com humor. Nos dias maus pode variar entre a cara de poucos amigos e o esquartejamento. Normalmente limito-me a dizer baixinho “animais”.
- E, dessa forma, não te estarás também a comportar como um animal?
- Quando digo baixinho “animais” não me excluo do grupo dos destinatários.
- Então desde que te incluas no grupo de destinatários da mensagem podes chamar o que quiseres a quem quiseres?
- Posso. Desde que fale em português até posso chamar-lhes coisas muito piores.
- Não te conhecia tão ácido.
- Estou a ter um dia em que parece que tudo corre mal.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A morte das verdades

- Do que gostas mais na China?
- Gosto das diferenças.
- São muitas?
- Começando nas aparentes e acabando nas ocultas, não são poucas as que existem sobre o mesmo fundo de humanidade.
- E porque gostas delas?
- Porque me permitem questionar todas as minhas verdades. De facto, sinto que as verdades deixaram de existir.
- O que existe então?
- Existem opiniões.
- E a China conseguiu mudar as tuas opiniões?
- São as experiências e a reflexão que mudam as opiniões e não os lugares.
- E as tuas experiências na China mudaram as tuas opiniões?
- A idade vai-nos tornando mais cépticos. Ou conservadores. Eu continuo um optimista.
- Em que acreditas?
- Em quase nada.

- Acreditar em Nada continua a ser acreditar em alguma coisa.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

O novo meio de transporte

Rendi-me às evidências e comprei uma bicicleta. Havia vários incentivos para o fazer: A cidade é pequena e plana, as bicicletas são baratas e são um meio refrescante de locomoção, quando não se pedala com muita velocidade, obviamente. Por outro lado, os táxis são muito baratos e têm ar-condicionado... mas a principal razão por que não comprei uma bicicleta assim que aqui cheguei foi mesmo o medo de voltar para casa dentro de um paralelepípedo de madeira depois de ter sido atropelado por um camião de suínos que não parou no sinal vermelho.


Hoje em dia, completamente adaptado às diferentes regras de trânsito em vigor por estes lados, já sou eu quem não respeita qualquer convenção imposta pela minha matriz ocidental e, para espanto até dos nativos mais temerários, atravesso qualquer rua em qualquer circunstância, independentemente do tom cromático do bonequinho que dita as acções dos peões.



Agora, em cima da minha bicicleta comprada em promoção no recém-inaugurado Carrefour, que ao fim do primeiro dia já fazia todo o tipo de ruídos como que a anunciar a sua breve partida para o mundo dos defuntos, sinto que ganhei uma nova vida, uma nova vontade de enfrentar a Jiefang road (a única verdadeira rua de Shaoxing) e de me perder nas ruelas que nela desembocam.

Montado na minha bicicleta, qual Quixote em cima do seu Rocinante, anseio por lutar contra os moinhos de vento das ruas de Shaoxing.

Ou então sou apenas mais um chinês em cima de uma bicicleta.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Mito nº 1 - Os chineses comem tudo o que mexe

Existe um ditado, salvo erro originário do Sul da China (ou será do Norte?), que diz que todos os animais que caminhem de costas para o céu se podem comer.

Se é certo que seria impensável encontrar em Portugal (ou em qualquer outro país europeu, para esse efeito) muitos dos petiscos que já vi por aqui, não é menos verdade que na maior parte dos restaurantes que frequento nunca encontrei cão no menu... nem baratas, nem macacos, nem nenhum outro animal com potencial para nos tirar o apetite.


Escorpiões, estrelas do mar e baratas só os encontrei no Norte e em locais específicos para espantar os turistas. Não duvido que existam em outros lugares mas a verdade é que à maioria dos chineses que conheço nunca passaria pela cabeça enfiar na boca um animal que vive nos esgotos.

O Macaco continua a ser um mito por desvendar. Não tenho provas que não se coma nem do contrário. Mas mais uma vez, acredito que haja lugares onde seja possível encontrar, apesar de não existirem propriamente macdonald’s locais a vender miolo de macaco com topping de morango.



Por último, o melhor amigo do homem é em geral bastante apreciado. Garantem-me que é melhor que qualquer outra carne e que é um alimento muito “quente” (calórico?) e, logo, óptimo para o Inverno. Nunca a encontrei à venda no supermercado nem nos restaurantes “melhorzinhos” mas é um facto que ela anda por aí.

No Sul, na província de Guangxi, era comum encontrar nas típicas tascas de rua o animal retratado em baixo. Se olharem com atenção, conseguem distinguir, entre uma série de elementos indistinguíveis, um animal com uma cauda comprida. Alguém consegue adivinhar do que se trata?

terça-feira, 17 de julho de 2007

Fugindo ao calor

Com os termómetros a atingirem preocupantes 38 graus, acompanhados por humidade sempre na casa dos 80%, tem sido uma preocupação constante encontrar alternativas refrescantes aos ares-condicionados caseiros. Excluindo, à partida, as piscinas públicas (por falta de sex-appeal)e a praia (por manifesta impossibilidade prática), os lagos são os melhores companheiros de fim-de-semana.

Nanjing foi uma agradável surpresa, com o seu lago-género-piscina-do-povo, mas Shaoxing rapidamente ganhou a dianteira, com uma fantástica lagoa de água tépida e transparente. Podem não ter os encantos da praia de Faro, mas também não têm os problemas de falta de estacionamento

Nanjing

Shaoxing

sexta-feira, 13 de julho de 2007

O Centro do Mundo

Representação chinesa do mapa-mundo

O Etnocentrismo consiste, grosso modo, em considerar uma cultura, normalmente aquela de que fazemos parte, superior a outra. Em países como a China, onde a população tem hábitos que dificilmente poderiam ser mais distintos dos nossos, é fácil ceder à tentação de considerar que a nossa cultura é melhor que a deles e o que não falta são motivos para o justificar. O que falta muitas vezes é um pouco de ponderação para questionar quais as razões que justificam essas diferenças. E normalmente elas sobram.

Eles cospem para o chão, não respeitam filas nem prioridades, empurram-se uns aos outros nos transportes públicos... a lista é interminável e é em argumentos como estes que os ocidentais se sustentam quando consideram a sua cultura superior.

Eu não gosto que me empurrem no metro (quando vou a Xangai, leia-se), faz-me impressão, mais que o acto de cuspir em si, o ruído que o precede, e (e esta é uma das pequenas coisas que mais me incomoda) não suporto a forma como eles sorvem ruidosamente o chá. Os modos à mesa, por outro lado, que já causaram momentos de indisposição a algumas visitas recentes, já deixaram de me incomodar.

Tenho as minhas razões para acreditar que as comparações entre culturas (principalmente quando envolvem os termos “superioridade” e “inferioridade”) são normalmente nefastas e pouco construtivas. Principalmente quando falamos de um país como a China onde, há muito pouco tempo, foi cometido um dos maiores atentados contra a Cultura jamais testemunhados e que, ironicamente, ficou conhecido como Revolução Cultural. Afinal o Mundo é um moinho, e o que hoje é dado como adquirido amanhã pode já não ser verdade. Tudo bem, ninguém pode negar (e nenhum chinês com o mínimo de bom-senso o nega) que as filas são um método muito mais eficiente que o “tudo ao molho e fé em Deus”, mas se é verdade que há coisas que eles podem aprender connosco (e já o estão a fazer), não é menos verdade que o oposto também é possível.

No fundo, aquilo que pretendo dizer é que todos nós temos os nossos telhados de vidro, e que cuspir para o chão é um crime muito pequeno quando comparado com colonizar e escravizar metade do mundo.

Polémicas à parte, aquilo que para mim tem sido mais interessante nesta experiência é, sem dúvida, a forma como me permite questionar tudo aquilo que eu dava como adquirido em função da minha “matriz ocidental”. Nós habituamo-nos a olhar para nós mesmos como o centro do Mundo. Estudamos a História Europeia e chamamos-lhe História Mundial e os nossos role-models pertencem cada vez mais à elite cultural dos ex-colonizados norte-americanos.

Esta experiência na China tem-me permitido mergulhar numa cultura que se vê a ela própria, em função da dimensão do país e das história milenar, como o Centro do Mundo. Com a vantagem de nos conhecerem muito melhor a nós do que nós a eles. Os ídolos mundiais ocidentais do desporto e da música, por exemplo, até podem ser famosos aqui. Mas não substituem os ícones pop chineses e coreanos.

Aqui é estranho comer de faca e garfo, é considerado de gosto muito duvidoso usar as mãos para comer (e nós, ocidentais, usamo-las muitas vezes) ou assoar o nariz a um lenço.
A nossa comida é estranha. Da mesma forma que as pessoas que me visitam gostam de comer nos restaurantes locais “pela experiência” mas refugiam-se na comida ocidental o mais depressa que podem, também os chineses que visitam a Europa recorrem quase em exclusivo aos inúmeros restaurantes do seu país de origem que podem encontrar.

[A título de curiosidade, este fim-de-semana, no aeroporto de Xangai, vi uma família chinesa, com problemas de excesso de bagagem, a transportar quantidades de noodles instantâneos e carnes secas suficientes para alimentar um pequeno exército durante 2 semanas.]

É tentador olhar para os chineses com olhos de ocidental e perguntar-lhes porque é que eles ainda usam pauzinhos para comer. Mas, muito mais interessante, e também mais difícil, é olhar para nós próprios com olhos de chinês e perguntar porque é que nós usamos faca e garfo. (metáfora inspirada em factos reais)

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Gosto de ir a Xangai porque...

... posso almoçar picanha num restaurante brasileiro e jantar bacalhau num restaurante português!

quarta-feira, 27 de junho de 2007

segunda-feira, 25 de junho de 2007

O país do futebol

Na China, como em quase todo o Mundo, somos o país do Figo e, cada vez mais, do Cristiano Ronaldo. Aqui toda a gente conhece o nosso cantinho europeu, ao contrário de muitos norte-americanos que têm tendência para nos situar na América do Sul.

Acrescente-se que comparar estes dois países não tem nada de aleatório, já que a China e os EUA têm muito mais em comum do que aquilo que se possa pensar – São ambos países enormes e ambos têm a percepção de que são o centro do mundo. A diferença é que no Império do Meio, para além de nos associarem a Macau, o futebol já conquistou as massas, ao contrário do que acontece nos EUA, onde continua a ser um desporto de nicho.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

A cidade dos Jogos Olímpicos

Beijing, a histórica capital do império, prepara-se para mais um grande desafio, à altura dos muitos com que se deparou durante a sua longa vida.

Desta vez, não se trata da invasão dos vizinhos mongóis nem da aliança anglo-francesa, muito menos do ímpeto destruidor das brigadas vermelhas, mas sim da organização de um dos maiores eventos desportivos à escala mundial – os Jogos Olímpicos.

Neste enorme metrópole, já de si uma das cidades mais poluídas do mundo, a atmosfera torna-se quase irrespirável sob o peso do pó libertado pelas obras necessárias para a recepção do evento. E não se trata apenas de construir e remodelar infra-estruturas desportivas, mas também, de melhorar os actuais acessos e de restaurar o património histórico da cidade de forma a impressionar o visitante estrangeiro, já no ano que vem.

Para se ter uma ideia da dimensão do fenómeno, consta que todas as obras deverão estar concluídas até Dezembro deste ano, de forma a permitir que toda a poeira assente!

Contudo, um dos desafios que mais preocupa as autoridades chinesas, é o de saber se a população estará preparada para deixar uma boa imagem na comunidade mundial, uma vez que aqui o conceito de civismo é muito diferente daquele a que fomos habituados pelos nossos padrões ocidentais. Cuspir para o chão, arrotar e não respeitar passadeiras, por exemplo, são hábitos perfeitamente normais e aceitáveis, que a maior parte das pessoas não encara como falta de educação.

O Governo chinês já encetou uma campanha de sensibilização, para tentar minorar o choque cultural que se adivinha, incluindo a substituição de centenas de sinais públicos com traduções erradas para o inglês (o famoso “chinglish”).

Eu espero voltar antes dos Jogos, mas, pelo sim pelo não, aconselho a todos que esperem pelo menos até ao Verão do ano que vem se fizerem tenção de visitar a grande capital.

Adivinha-se uma tarefa hercúlea... mas não nos podemos esquecer que estamos a falar da mesma civilização que construiu uma muralha de sete mil quilómetros!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Marketing espanhol

Não é segredo para ninguém que vivemos ao lado de um dos mais importantes destinos turísticos a nível mundial - Os nossos hermanos não só possuem um inegável conjunto de atractivos, como ainda os promovem bem. Vendem-se como um país de fiesta e de cultura... e começam a fazer o mesmo no maior mercado emergente do mundo.

Nanjing Road (a artéria comercial mais importante de Xangai)

terça-feira, 12 de junho de 2007

Todos os chineses são bilingues? (e o país dos dentes de uva)

Uma parte considerável dos chineses são efectivamente bilingues. Isto é, são nativos tanto no seu dialecto local como no Mandarim – o idioma oficial nacional. As excepções à regra encontrar-se-ão em Beijing – Onde o Mandarim corresponde, grosso modo, ao dialecto local – e nas regiões menos desenvolvidas do interior, onde o Mandarim não é falado com tanta preponderância.

Inglês? Digamos que se um estrangeiro quiser sobreviver na China, um bom curso de linguagem gestual será uma mais-valia muito mais importante que qualquer palavra em inglês que saiba dizer. Continua a ser uma raridade encontrar alguém que consiga articular algumas palavras no idioma de Shakespeare, particularmente à medida que nos formos afastando da capital económica, Xangai.

No pouco tempo que levo aqui já aprendi o suficiente para impressionar visitas estrangeiras (aquelas que não falam uma palavra do idioma, naturalmente) mas ainda estou muito longe do mínimo necessário para compreender uma conversa que seja entre dois chineses (apenas, por vezes, o assunto, quando reconheço 3 ou 4 palavras familiares). Apesar de tudo, começo a entrar numa fase de aprendizagem em que já vou fazendo algumas associações entre palavras novas e antigas e vou descobrindo novos significados para vocábulos já adquiridos. Por exemplo, uma das primeiras palavras que aprendi foi “meimei”, que significa “irmã mais nova”. Mas só depois de saber que “meinu” quer dizer algo do género “moça bonita” e que “nu” é um vocábulo utilizado para o sexo feminino, é que percebi por que é que é prática mais ou menos corrente chamar as empregadas dos restaurantes de “meimei”. É algo do estilo: Oh “bonitinha/irmãzinha” trás-me aí uma chávena de chá, se faz favor!

“Mei”, por si só, quer dizer algo como “bonito”. No entanto, nunca se utiliza apenas “mei” ou apenas “nu”. São vocábulos que perdem o significado quando assim soltos, precisando de um prefixo ou sufixo para quererem dizer alguma coisa.

Os nomes dos países estrangeiros são adaptados para o chinês através de aproximações fonéticas, utilizando, naturalmente, os caracteres chineses para esse efeito. Os resultados algumas vezes são interessantes e outras não têm significado absolutamente nenhum. Senão vejamos, hoje já aprendemos que “mei” quer dizer “bonito”. Se a isso juntarmos que “guo” significa país, percebemos que "Meiguo" (Estados Unidos da América) é nada menos que “país bonito”. A Alemanha também não se pode queixar da sorte, uma vez que “Deguo” siginifica algo como “país de princípios”.

O nome do nosso pequeno país à beira mar plantado foi baptizado de “Putaoya”, que, por pura coincidência sonora, significa “dentes de uva”. Não é propriamente um nome muito sexy, mas resta-nos a consolação de ainda haver pior – os nossos vizinhos de península (Xibanya) vivem em “dentes do turno Oeste”.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Lentidão

O riquexó é talvez o meio de transporte mais característico da China. Apesar de já não ser possível encontrá-lo nas maiores cidades (confesso que não sei se por impossibilidade prática ou se por proibição legislativa), é ainda um meio de locomoção bastante comum em meios mais pequenos e, preferencialmente, planos. Tal como é Shaoxing. Apesar da proliferação de táxis, que normalmente existem em número superior ao dos carros particulares em qualquer cidade chinesa (ou pelo menos é essa a impressão que dá!), o riquexó vai sobrevivendo... por enquanto.



É muito mais lento que um táxi normal e provavelmente é também mais inseguro (se bem que as manobras dos taxistas chineses insistem em desmentir este último argumento). O preço é negociável e normalmente um pouco mais baixo que a bandeirada do Volkswagen Santana. Na maior parte das vezes não o suficiente para compensar a diferença na duração da deslocação num Mundo em que, cada vez mais, o tempo é dinheiro.


Pela minha parte, inicialmente avesso a viajar no atrelado de uma bicicleta, fui-me, pouco a pouco, rendendo à lentidão do riquexó e, embalado pelo ruído da corrente, fui percebendo que a forma mais rápida de deslocação entre dois pontos é quase sempre a menos interessante.

Num mundo em que a eficiência tecnocrata substitui aqueles que deveriam ser os valores mais importantes, as pessoas apressam-se de um lado para o outro numa frenética tentativa de “optimizar” o tempo, a mesma que as leva a querer visitar “o máximo de lugares possível” quando vão em viagem. Eu recuso-me a alinhar pelo mesmo diapasão e sempre que puder vou viajar de comboio em vez de avião, de riquexó em vez de táxi, e a pé, lentamente, vendo o dia passar, em vez de correr e esquecer o que há à minha volta.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Quatro meses

Fez, por estes dias, 4 meses desde que a aventura chinesa se iniciou. É cedo para fazer balanços, mas é uma altura extremamente oportuna para uma das clássicas comparações “antes e depois”. Como a que a Rita faz aqui.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Diferenças

Segundo conta a minha mãe, umas das maiores vergonhas que a fiz passar foi quando, ainda na Coimbra Natal, exclamei, alto e bom som, enquanto cruzava uma passadeira: “Mãe, aquele senhor tem a cara pintada de preto!”

A expressão do primeiro contacto consciente com um tom de pele diferente, no meu caso, reflecte a ingenuidade e pureza com que as crianças observam o Mundo. Lembro-me amiúde desta história quando me cruzo com crianças na China e revejo aquele que, imagino, terá sido o meu olhar de espanto, nos olhos amendoados de cada uma delas, fixando-me curiosamente.

Normalmente a curiosidade torna-se em vergonha quando as confronto directamente com o desconhecido e lhes mostro a língua ou lhes digo “hello”. Em lugares mais turísticos não escapo às objectivas dos pais que querem eternizar o primeiro contacto das suas crias com o Estrangeiro. Imagino, brincando, em quantas salas de estar chinesas já estarei eu, emoldurado.


Na China, a julgar pela capa do meu livro, sou efectivamente diferente e sinto-o cada dia nos olhares de crianças e adultos anónimos.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Putuoshan

O frio que se entranhou nos meus ossos durante os primeiros tempos da minha aventura chinesa começa já a dar lugar a um calor abafado que se adivinha insuportável nos meses vindouros. Foi neste pegajoso contexto que me propus iniciar a busca de uma alternativa refrescante ao clima urbano circundante.


Putuoshan é uma das centenas de ilhas que compõem o arquipélago de Zhoushan na costa de Ningbo, na província de Zhejiang, suficientemente próxima de Shaoxing para merecer uma visita de fim-de-semana e com atractivos mais que suficientes para a justificar – praia, marisco... e budismo. Putuoshan alberga uma das 4 montanhas budistas da China, o que a torna, para além de um famoso destino turístico, num importante local de peregrinação.



O tempo, incrivelmente quente durante toda a semana, resolveu presentear-nos com aguaceiros durante o tempo que passámos na ilha. O que, no fundo, talvez não tenha sido um mau presente, uma vez que refreou as nossas intenções de mergulhar numa água de cor, no mínimo, duvidosa! E se as praias dificilmente poderiam ter impressionado os excursionistas brasileiro e português, já os petiscos mostraram estar à altura do desafio, quer em variedade quer em qualidade, a fazer lembrar os saudosos festivais de marisco algarvios que se aproximam, tão perto e tão longe.


quarta-feira, 9 de maio de 2007

Longsheng, Guangxi (Dragon Backbone Terrace)

No norte da província de Guangxi, esconde-se mais uma das paisagens cartão-postal que decoram paredes de agência de viagem – os terraços de arroz de Longsheng. O pouco tempo disponível obriga a comprar a viagem-pacote que facilita o turismo mas simultaneamente o despoja da maior parte dos atributos que normalmente tornam o viajar uma experiência tão inesquecível. Se os pudesse concentrar numa palavra, essa seria a cada vez mais subvalorizada – improviso. Porque o improviso pode, sim senhor, fazer com que não “aproveitemos” tão bem o sempre escasso tempo disponível, com que não vejamos tudo aquilo que teríamos gostado de ver, mas é normalmente o improviso que nos possibilita os momentos mais inesquecíveis de qualquer viagem. Porque ninguém volta de Paris e diz que o melhor momento da viagem foi quando subiu ao topo da torre Eiffel. O melhor momento se calhar foi num café dos subúrbios a conversar com dois descendentes de árabes sobre sorrisos de francesas. Se calhar porque se confundiu o autocarro 23 com o 223. E isso não vem incluído em nenhuma viagem de pacote.


A evidência é que chegar a Longsheng sem ser através da viagem de pacote obriga a um despender do recurso Tempo, de que simplesmente não disponho (o recurso Paciência depende dos dias mas normalmente tenho de sobra). Rendo-me ao pacote e acordo antes das 7h da manhã de modo a ter todo o tempo do mundo para parar nos locais previamente escolhidos à hora previamente acordada onde as minorias étnicas nos esperam para nos presentear com os seus espectáculos tradicionais a troco de uma módica contribuição pecuniária. Adiante.



A pequena aldeia de Ping’An, em Longsheng, no Norte da província de Guangxi, tem cerca de 700 habitantes, todos pertencentes à minoria Zhuang. Têm o seu próprio dialecto (que me dizem ser mais próximo do vietnamita do que do chinês), a sua própria forma de vestir e as suas próprias tradições e costumes. A sua própria identidade.
Através de um engenhosos sistema de irrigação conseguem manter cultivos (maioritariamente de arroz) no topo das montanhas para onde foram “empurrados” no passado , o que lhes tem permitido garantir a sua subsistência desde há mais de 500 anos. O efeito visual é, contudo, impressionante e tem atraído nos últimos anos um grande número de visitantes. A chegada do turismo, ainda que em pequena escala, por enquanto, alterou o modus vivendi desta pequena sociedade e imagina-se que num futuro próximo as plantações de arroz sejam mantidas apenas para efeitos turísticos.



A paisagem, a construção, a simbiose homem-natureza são na realidade impressionante e mereciam mais algum tempo de deslumbramento. Tempo de que infelizmente não disponho. Sobra algum (tempo, claro) para, sempre a correr, tentar encontrar os ângulos que melhor ilustrem aquilo que as palavras normalmente se esforçam (quase sempre com pouco sucesso) por transmitir. Encontro dois ou três e volto a correr para baixo. Literalmente a correr.

Melhor momento do dia? Almoço numa esplanada a meio da montanha, em Ping’An, temperado com ideias sobre um pouco de tudo na companhia dos hermanos Ana e Orestes. O almoço não estava incluído no pacote.