sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Tibete

Chegar a esta parte da China é como entrar num país diferente – as cores, as vozes e os cheiros do costume dão lugar a novas cores, novas vozes e novos cheiros. Não melhores, nem piores mas simplesmente diferentes como sempre são as coisas novas. Muitos outros lugares neste gigantesco país me causaram a mesma sensação de chegada a um mundo novo. Mas este, por todos os motivos do mundo, é um lugar diferente. E é impossível fugir à questão – o Tibete faz ou não parte da China?

Apesar de não ser assim reconhecido por nenhuma outra nação, a verdade é que no imaginário Ocidental o Tibete é, sim, um país independente. Nos folhetos das agências de viagem portuguesas, não sei se por provocação, desconhecimento ou estratégia, o Tibete é anunciado como um destino à parte da China. Na China, no entanto, ninguém coloca sequer a hipótese de o Tibete vir a ser algum dia um país independente. O Tibete foi, é e será parte integrante deste país multiétnico e multicultural. Em que ficamos? Têm razão os ocidentais ou os chineses?

Os argumentos baseados na História são complicados e sempre sujeitos a manipulações e diferentes interpretações. Afinal quando é que realmente o Tibete passou a fazer parte da China? Não após o triunfo comunista, como muita gente imagina, mas certamente muito tempo antes. Exactamente quando e em que moldes é a questão mais disputada entre Comunistas e Tibetanos. Mas será que é a mais importante?

No mesmo dia em que os Tibetanos no exílio recordam a destruidora invasão comunista que inaugurou a perseguição da sua religião como veneno, os chineses comemoram o aniversário da libertação do Tibete – libertação do regime teológico, feudal e esclavagista que era perpetrado pelos monges.

Quem tem razão? Em alguma medida, ambos, certamente. Mas quem tem razão, então? Não podem ser ambos, pois não?
Lembro-me de, numa das primeiras discussões que tive sobre este tema com um chinês (e que me levaram a evitá-las a partir daí), lhe ter perguntado se a maioria dos tibetanos se consideravam chineses. Ele disse-me que sim. Eu disse-lhe que gostaria ir ao Tibete e ganhar alguma sensibilidade sobre o que as pessoas aí realmente pensam. Não será esse, na realidade, o único argumento válido, pensava eu?

Não quero de forma alguma ser juiz de um tema sobre o qual sei muito pouco, mas parecia-me que era esse o único argumento realmente importante. Tudo o resto seria uma discussão fútil porque nunca chegaria a ter um fim.

Obtive a minha resposta. Tenho agora uma opinião formada e não preciso de ler mais nada sobre este assunto para a fundamentar. Tu és aquilo que te sentes, independentemente da forma como os outros te queiram catalogar. Não é isso a liberdade?




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