quarta-feira, 9 de maio de 2007

Longsheng, Guangxi (Dragon Backbone Terrace)

No norte da província de Guangxi, esconde-se mais uma das paisagens cartão-postal que decoram paredes de agência de viagem – os terraços de arroz de Longsheng. O pouco tempo disponível obriga a comprar a viagem-pacote que facilita o turismo mas simultaneamente o despoja da maior parte dos atributos que normalmente tornam o viajar uma experiência tão inesquecível. Se os pudesse concentrar numa palavra, essa seria a cada vez mais subvalorizada – improviso. Porque o improviso pode, sim senhor, fazer com que não “aproveitemos” tão bem o sempre escasso tempo disponível, com que não vejamos tudo aquilo que teríamos gostado de ver, mas é normalmente o improviso que nos possibilita os momentos mais inesquecíveis de qualquer viagem. Porque ninguém volta de Paris e diz que o melhor momento da viagem foi quando subiu ao topo da torre Eiffel. O melhor momento se calhar foi num café dos subúrbios a conversar com dois descendentes de árabes sobre sorrisos de francesas. Se calhar porque se confundiu o autocarro 23 com o 223. E isso não vem incluído em nenhuma viagem de pacote.


A evidência é que chegar a Longsheng sem ser através da viagem de pacote obriga a um despender do recurso Tempo, de que simplesmente não disponho (o recurso Paciência depende dos dias mas normalmente tenho de sobra). Rendo-me ao pacote e acordo antes das 7h da manhã de modo a ter todo o tempo do mundo para parar nos locais previamente escolhidos à hora previamente acordada onde as minorias étnicas nos esperam para nos presentear com os seus espectáculos tradicionais a troco de uma módica contribuição pecuniária. Adiante.



A pequena aldeia de Ping’An, em Longsheng, no Norte da província de Guangxi, tem cerca de 700 habitantes, todos pertencentes à minoria Zhuang. Têm o seu próprio dialecto (que me dizem ser mais próximo do vietnamita do que do chinês), a sua própria forma de vestir e as suas próprias tradições e costumes. A sua própria identidade.
Através de um engenhosos sistema de irrigação conseguem manter cultivos (maioritariamente de arroz) no topo das montanhas para onde foram “empurrados” no passado , o que lhes tem permitido garantir a sua subsistência desde há mais de 500 anos. O efeito visual é, contudo, impressionante e tem atraído nos últimos anos um grande número de visitantes. A chegada do turismo, ainda que em pequena escala, por enquanto, alterou o modus vivendi desta pequena sociedade e imagina-se que num futuro próximo as plantações de arroz sejam mantidas apenas para efeitos turísticos.



A paisagem, a construção, a simbiose homem-natureza são na realidade impressionante e mereciam mais algum tempo de deslumbramento. Tempo de que infelizmente não disponho. Sobra algum (tempo, claro) para, sempre a correr, tentar encontrar os ângulos que melhor ilustrem aquilo que as palavras normalmente se esforçam (quase sempre com pouco sucesso) por transmitir. Encontro dois ou três e volto a correr para baixo. Literalmente a correr.

Melhor momento do dia? Almoço numa esplanada a meio da montanha, em Ping’An, temperado com ideias sobre um pouco de tudo na companhia dos hermanos Ana e Orestes. O almoço não estava incluído no pacote.



1 comentário:

Anónimo disse...

Nunca imaginei que fosse possível cultivar arroz no cimo de uma montanha!!! Engenhosos os chineses!
As fotos estão lindíssimas, como sempre!:)